Consciência ambiental
Projeto resgata a araucária em Canguçu
Médico anestesista já plantou mais de dez mil mudas ao redor do município, considerado o limite sul do Brasil da floresta da espécie
Paulo Rossi -
O cara é um médico anestesista. Lida com vidas humanas o tempo todo. Divide-se entre Pelotas e Porto Alegre. Teoricamente tinha tudo para não se envolver em trabalho ambiental. Mas aconteceu exatamente o oposto. Nas horas de folga, Alexandre Rodrigues Nunes, 42, natural de Canguçu, corre para sua terra natal e dá sequência ao projeto de reflorestamento de araucárias no município. Faz isso há dez anos, período em que já plantou mais de dez mil mudas ao redor da cidade.
Conseguiu o feito de transformar a araucária em árvore-símbolo de Canguçu, via Câmara de Vereadores, e se orgulha do projeto, viabilizado por meio do Instituto André Puente, do qual é presidente. Trata-se de uma ONG que busca promover o desenvolvimento humano, defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural.
Ele acredita que o passo inicial para o reconhecimento da Araucaria angustifolia como árvore-símbolo ajudará, entre outros fatores, na remodelação estética e econômica da cidade, assim como a valorização das propriedades e fixação dos agricultores no campo. Nunes ressalta que Canguçu é o limite sul da floresta de Araucaria angustifolia, sendo o norte Conselheiro Pena, em Minas Gerais.
Segundo ele, autores afirmam ter havido no município o maior núcleo de pinhal do Escudo Sul Rio Grandense, que teria oito mil hectares. Com o tempo as pessoas foram derrubando e não replantaram, o que fez com que a espécie sumisse gradativamente. O plantio começou na entrada da cidade e teve alguns lugares que Nunes replantou pelo menos dez vezes - na época do Natal as pessoas cortam para fazer seu pinheiro, relata. “É um trabalho complicado. São incontáveis os replantios e às vezes que fui atacado por cachorros”, conta.
O médico tem um berçário em casa com três mil mudas, mas iniciou o trabalho com as adquiridas no horto florestal de São Francisco de Paula. É preciso ter o ambiente ideal para a espécie, que deve ser plantada em uma região de declive, sem água parada. Não pode ficar embaixo de rede elétrica e também não deve haver residências perto.
Nunes plantou mudas do pedágio até o posto de combustíveis localizado na entrada da cidade. A quantidade perdida foi muito grande, mas ele não desiste e continua o trabalho todos os invernos, estação ideal para o plantio.
Hoje em dia é fornecedor de sementes para o Colégio Agrícola de Canguçu, Embrapa e prefeitura do município. As sementes (pinhões cobertos com serragem) ficam em caixas de madeira que tem em casa, em Pelotas, junto com as mudas prontas para serem plantadas.
Tudo é aproveitável
De acordo com a Embrapa, a araucária é uma árvore extremamente útil e tudo nela é aproveitável: as amêndoas (pinhões), a madeira, a pasta de celulose e a resina delas extraídas.
Objetivos do plantio
Ambiental, educacional, turístico, econômico e paisagístico.
A valorização das propriedades e fixação dos agricultores no campo.
Benefícios ambientais
Abrigo para a fauna, proteção do solo, proteção das águas, material para estudos científicos e educação ambiental, fixação de carbono, valorização de imóveis e fomento ao turismo ecológico, entre outros.
Paisagismo
Considerada uma árvore de rara beleza, em especial de sua copa nos vários estágios de crescimento, a espécie é de grande efeito ornamental.
A árvore
Também conhecida como pinheiro-brasileiro, é uma espécie em extinção muito antiga, com ciclo de vida que teve origem há 200 milhões de anos. Mede de dez a 50 metros de altura e pode produzir cerca de 40 quilos de pinhão ao ano. Possuem machos e fêmeas e t em como sementes o pinhão.
Folhas
De suas folhas podem ser retirados seis biflavonoides, agentes que atuam contra inflamações e artrite, além de etil-acetato e n-butanol, de comprovada ação anti-herpética.
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